Agronomia
Zoneamento Climático para Heveicultura na Região Campos das Vertentes - MG
Ana Júlia Ribeiro dos Santos
Dener Correia da Silva
INTRODUÇÃO
A seringueira (Hevea brasiliensis), árvore que produz a borracha natural, pertence à famÃlia das Euforbiáceas e é originaria da Amazônia, entre as latitudes 3°N e 15°S. No entanto, seu cultivo estende-se desde as latitudes 24°N até 25°S, demonstrando grande adaptabilidade a diferentes climas (CARMO et al., 2004; CECÃLIO et al., 2006). O Brasil, até a década de 50, era o maior fornecedor mundial de borracha, mas atualmente contribui com apenas 1,3% da produção mundial e importa 64% de sua demanda interna (CARMO et al., 2004).
Segundo CARMO et al., (2009), existem iniciativas para tentar expandir os cultivos de seringueira no Brasil e tentar alcançar a autossuficiência em borracha natural. O zoneamento climático é uma ferramenta muito utilizada para a definição da aptidão de determinadas regiões para a heveicultura, podem auxiliar esta possÃvel expansão. Possibilita definir áreas propÃcias tanto em relação a fatores climáticos adequados para a produção, quanto para evasão da heveicultura de áreas propÃcias à principal doença que afeta a cultura, o mal das folhas causado pelo fungo Microcylus ulei.
O objetivo deste trabalho foi realizar o zoneamento climático da heveicultura para a região Campo das Vertentes em Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODO
Os parâmetros climáticos utilizados para a distinção das classes de aptidão para seringueira foram obtidos no Zoneamento Agroclimático do Estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 1980) e estão organizados na Tabela 1. Foi considerada a temperatura media anual (Ta), deficiência hÃdrica anual (Da) e evapotranspiração real anual (ER).
O limite da região foi estabelecido utilizando a lista de municÃpios apresentada por Baruqui et al. (2006), os quais foram selecionados e extraÃdos da malha municipal digital do Brasil de 2007 (IBGE).
Para estabelecer os valores de Ta, Da e ER, foram utilizados os dados do Banco de Dados Climáticos do Brasil (EMBRAPA) e de postos da CEMIG e DNAEE (INMET). Os valores de Ta das estações do Banco de dados da EMBRAPA referentes a Minas Gerais foram submetidos a uma regressão linear múltipla, considerando como variáveis independentes a altitude, latitude e longitude, dando origem à seguinte equação:
Ta (°C) = 27,5 - 0,00533 x altitude = 0,473 x latitude – 0,150 x longitude
No software ArcGis 9.3 a Ta foi espacializada utilizando como fonte para os valores de altitude, latitude e longitude o modelo digital de elevação (MDE) Topodata (INPE). A Da e a ER foram espacializadas utilizando 19 estações dos dois bancos de dados climáticos, através do interpolador Spline. Tais operações deram origem a três planos de informação Da, Er e Ta que foram reclassificados de acordo com as exigências da seringueira (Tabela 1) e cruzados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram estabelecidas três classes de aptidão para a região, distribuÃdas da seguinte forma (Figura 1): apta - aproximadamente 374766,5 ha (18,39 %), restrita por carência térmica - aproximadamente 1559412,28 ha (76,5 %), e inapta por insuficiência térmica - aproximadamente 104007,3 ha (5,2 %).
A aptidão melhora no sentido leste - oeste, principalmente devido à diferença de altitude, que diminui no mesmo sentido. A região do municÃpio de Formiga (oeste) apresenta-se como a área de melhor aptidão, ao passo que a região de Barbacena (leste) possui a maior parte da área inapta à cultura.
Este trabalho pode ser ampliado e refinado considerando fatores não abordados, mas que interferem no desenvolvimento da heveicultura, como tipo de solo e relevo. A adoção de um interpolador mais adequado à espacialização de dados climáticos também poderá melhorar os resultados.
CONCLUSÃO
Considerando apenas fatores climáticos, a maior parte da região Campo das Vertentes possui restrição para a heveicultura.
AGRADECIMENTO
À Fapemig, pelo financiamento das pesquisas e pelas bolsas concedidas.
REFERÊNCIAS
BARUQUI, A. M. et al. Levantamento de Reconhecimento de Média Intensidade dos Solos da Zona Campos das Vertentes - MG. Rio de Janeiro, 2006. 326p. (Embrapa Solos. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 96)
CARMO, C. A. F. de S. et al. Aspectos Culturais e Zoneamento da Seringueira no estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004. 47p. (Embrapa Solos. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 60)
CARMO, C. A. F. de S. et al.. Cenário da produção e consumo de borracha natural. In: OLIVEIRA, A. B. et al (Coords.). A Cultura da Seringueira no estado do Rio de Janeiro. Niterói: PESAGRO-RIO, 2009. Cap. 1, p.13-25.
CECÃLIO, R. A. Zoneamento agroclimático para heveicultura na parte leste do Estado da Bahia. Salvador. Bahia AgrÃcola, Salvador, v.7, n.2, p. 14-17, abril 2006.
MINAS GERAIS. Zoneamento Agroclimático do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Agricultura, 1980. 114p
Tabela 1 – Faixas de Valores dos parâmetros climáticos utilizados para a distinção das classes para seringueira
CLASSE | ER (mm) | Da (mm) | Ta (°C) |
Apta | > 900 | < 200 | |
Restrita Carência HÃdrica | > 900 | 200 a 400 | - |
Restrita Carência Térmica | < 900 | - | > 18 |
Inapta | - | > 400 | < 18 |
ER = evapotranspiração real anual; Da = deficiência hÃdrica anual; Ta= temperatura média anual
Fonte: Minas Gerais (1980).
Figura 1 – Mapa do Zoneamento Climático para Heveicultura na Região Campos das Vertentes – MG.
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