Já influenciados pela valorização da soja e do petróleo, os insumos agrícolas sofrem agora de uma nova pressão sobre os preços: a recente escalada do dólar, provocada pelo incerto mercado europeu, está afetando os custos produtivos relacionados a defensivos e principalmente a fertilizantes - de cujas importações o Brasil depende em demasia.
Na região que mais consome esses produtos, o Mato Grosso, os preços subiram 35% e 50%, respectivamente, nas comparações anuais do mês de abril, considerando que o dólar estivesse valendo, naquele período, uma média de R$ 1,85. "Em maio, vamos sentir a pressão do dólar a R$ 1,95", observa o analista de custos produtivos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Otávio Behling Júnior.
"O dólar afeta diretamente o preço dos fertilizantes e defensivos, então o custo dos insumos ficou maior", afirma. Os insumos (incluindo sementes) representam 53% dos gastos que o produtor tem com a lavoura no estado, segundo Behling Jr. Na sojicultura, esse percentual equivale, hoje, a R$ 1.059 por hectare.
No Município de Primavera (MT), o adubo Super Simples, que é um dos mais utilizados pelos agricultores, custava, em média, US$ 410 por tonelada em abril de 2011. Em março deste ano estava mais barato: US$ 381, mas neste mês chegou a US$ 495, com valorização de quase 20%.
Em nota ao DCI, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) admite que "parte relevante das matérias-primas, ingredientes e formulações [de defensivos agrícolas] é importada". "Há, portanto, neste momento, um cenário que indica o surgimento de pressões de custos no tocante à produção de defensivos", diz a nota.
O peso do câmbio é, contudo, maior sobre os fertilizantes, que representam 49% do custo operacional de uma lavoura, de acordo com Behling Jr. Os gastos com agrotóxicos ficam próximos de 30% do investimento total.
Impacto na distribuição
Os efeitos do dólar já são sentidos na negociação entre distribuidores brasileiros de agrotóxicos (um mercado de US$ 8 bilhões anuais) e os fornecedores multinacionais. Os negócios atuais visam ao fornecimento para a próxima safra de verão, com as vendas esperadas para meados deste ano.
"O repasse não é imediato. As próximas grandes compras devem refletir o impacto. Será inevitável, o repasse dos fornecedores", afirma o proprietário da distribuidora Agroquima, Raphael Barsch. "Não sabemos ainda que impacto o fornecedor vai trazer, mas já sentimos a pressão de alguns, que dizem: 'se não fechar negócio agora, o preço vai subir'."
A Agroquima usa defensivos da Dow Agrosciences, entre outros, e os distribui, por meio de 17 filiais, em Goiás, Mato Grosso, Pará, Tocantins, Maranhão e Minas Gerais. A última leva de encomendas foi negociada à média de R$ 1,75 por dólar. "No patamar de R$ 1,80, para a agricultura, é um dólar bom", opina Barsch.
"O dado positivo a ser destacado em relação à elevação do dólar, por ora, é que o agricultor brasileiro será beneficiado com preços melhores, em reais, para comercialização de sua produção. Este aspecto, potencialmente, indica que o produtor brasileiro poderá capitalizar-se para investir em tecnologia aplicada às suas lavouras", registra o Sindag.
A recente escalada da moeda norte-americana é vista como uma oportunidade de o produtor exportar com preços elevados. Outro fator que beneficia, nesse sentido, o agricultor, é a valorização da soja, que geralmente é usada como moeda de troca na aquisição de insumos agrícolas.
Para Behling Jr., do Imea, o produtor deve ficar atento às disparadas do preço da soja para realizar o escambo. Quando a oleaginosa encarece, indica que os adubos também devem se valorizar em seguida. "A tendência dos fertilizantes é de acompanhar os preços da soja", diz o especialista.
"Quem faz troca está tendo certa facilidade, porque está capitalizado com a soja", pontua Barsch. No Mato Grosso, o pacote de insumos (adubo, agrotóxico e semente) está valendo, atualmente, 23 sacas de soja por hectare, segundo o Imea. "Os produtores deram uma segurada na comercialização por causa do aumento de preços", observa Behling Jr. "Se o dólar continuar alto, aí vai ter mais impacto", constata Barsch. Ontem, estava cotado a R$ 1,99.
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