Agronomia
Matéria orgânica e Sistema de Plantio Direto
Ana Júlia Ribeiro dos Santos
Eng. Agrônoma
Atenção! Plágio é crime.
Introdução
Muito se sabe acerca das vantagens do manejo correto da matéria orgânica do solo, entre as quais, podemos destacar vantagens no que diz respeito à física, a química e a biologia do solo. A matéria orgânica do solo pode ser definida como todo material orgânico incorporado ao solo ou não, exceto a parte aérea das culturas e abrange o material vegetal e animal. Dada a definição de matéria orgânica do solo, ainda podemos dividi-la em duas frações, fração viva e fração morta. A fração morta, por sua vez é subdividida em fração leve, fração não húmica, e fração húmica.
A agropecuária é uma atividade antrópica essencial para toda e qualquer sociedade, independente do nível de desenvolvimento (Gualberto; Melo; Nóbrega. 2003). O que muito tem se pensado ultimamente é o que fazer para que possamos atingir o máximo de produção de alimentos para satisfazer essas sociedades sem se afetar permanentemente os diferentes ecossistemas terrestres e principalmente o solo.
O bom manejo da matéria orgânica do solo, aliado à implantação do Sistema de Plantio Direto tem se revelado uma prática de conservação do solo extremamente eficiente, contribuindo para a preservação de varias características do solo.
Por outro lado, o manejo incorreto da matéria orgânica, pode causar direta ou indiretamente problemas ambientais como desequilíbrio da microbiota do solo. Desequilíbrio este que pode alavancar problemas como infestações de pragas. Outros problemas ocasionados pelo manejo incorreto da matéria orgânica do solo ainda podem ser observados, tais como compactação e má estruturação do solo, fatores que em muito atrapalham a aeração do solo e o desenvolvimento radicular.
Problemas no que diz respeito à fertilidade do solo também podem ser listados
pois, a matéria orgânica é o principal fator gerador da CTC (Capacidade de Troca Catiônica) em solos mais intemperisados. Logo, adubações químicas se tornam muito mais eficientes em solo com melhor manejo da matéria orgânica, chegando inclusive a não apresentarem o efeito desejado se o teor de matéria orgânica no solo não estiver bem equilibrado.
Logo, os objetivos do presente artigo são:
· Listar os papéis exercidos pela matéria orgânica do solo e aliá-las às vantagens do Sistema de Plantio Direto.
· Citar as desvantagens e/ou dificuldades encontradas para a implantação do sistema de plantio direto.
Revisão de literatura
Definido o conceito de matéria orgânica do solo, aprofundemo-nos mais em suas definições. Para tanto, definimos então, cada uma das frações da matéria orgânica do solo.
O Quadro 1 apresenta as frações da matéria orgânica do solo e sua definição geral.
QUADRO 1 - Definição geral das frações da Matéria Orgânica do solo
Fração da M.O.S | Característica |
Fração viva | Composta pelos organismos vivos presentes no solo, exceto a parte aérea das plantas |
Fração morta | Fração leve: palhas. Apresentam baixa atividade biológica em virtude de sua relação C/N ser muito alta (80 a 100:1) Fração não húmica: compostos orgânicos de baixo peso molecular como carboidratos, proteínas e lipídeos. Responsável por satisfazer a fome da microbiota do solo e portanto, rapidamente degradada. Fração húmica: compostos orgânicos de alto peso molecular como ácidos húmicos, ácidos fúlvicos e huminas. Formados por ligações muito estáveis. Dificilmente degradados. |
Após a listagem das frações da matéria orgânica do solo podemos agora entender suas habilidades ou seja, suas funções exercidas no solo.
Pedogênese
A matéria orgânica tem a função fundamental de formação do solo no processo de intemperismo. A intemperização físico química das rochas matrizes por si só resultaria em terrenos sem nenhuma fertilidade, visto que há necessidade de nitrogênio e esqueletos de carbono para que a vida se estabeleça (Coutinho et al., 2003). Outros elementos minerais podem ser obtidos através do intemperismo, sem a atividade de organismo pioneiros, porém apenas através da atividade biológica de organismo pioneiros como as algas, o carbono e o nitrogênio podem ser fixados da atmosfera.
Bioturbação (estrutura do solo e formação de agregados)
No que diz respeito à estruturação do solo, a fração húmica do solo é responsável pela formação de agregados juntamente com estruturas de microorganismos como os fungos, os quais as hifas formam gomas biológicas. Ainda falando em estruturação do solo, componentes da fauna do solo, como as minhocas também favorecem a estruturação do solo atuando na formação de canais. Diversas vantagens podem der listadas em um solo bem estruturado tais como eficiência na penetração de raízes resistência à erosão, diminuição da compactação e melhora na aeração.
Resistência do solo à erosão
As frações leve e viva impedem o impacto da gota de chuva e o araste superficial da água diminuindo o risco de erosão sendo que quanto mais densa a vegetação menor o impacto.
Controle da atividade biológica
Por ter menor calor específico em virtude de sua cor escura, a matéria orgânica do solo controla a temperatura do solo. A fração não húmica fornece nutrientes para satisfazer a microbiota do solo por liberar nutrientes por mineralização. Esses fatores em conjunto controlam a atividade biológica do solo.
Habilidades químicas da matéria orgânica do solo
A matéria orgânica do solo é um dos principais fatores de geração de CTC (Capacidade de Troca Catiônica) do solo a qual é responsável pela retenção de cátions e, consequentemente, pela manutenção da fertilidade do solo. A fração húmica, é ainda responsável pela geração da Capacidade Tampão de Hidrogênio, o que garante o impedimento de variações bruscas de concentração de Hidrogênio. Tal habilidade garante um ambiente propício para a atividade biológica por haver baixa concentração de pH.
Vantagens gerais para o ambiente
Todas as vantagens listadas, tais como controle de erosão, controle de temperatura e controle de íons em solução fazem com que um manejo correto de matéria orgânica seja um importante aliado para a conservação do solo.
O manejo correto da matéria orgânica mantém o equilíbrio ecológico permitindo que inimigos naturais das pragas e fitopatógenos permaneçam no solo diminuindo a necessidade de produtos químicos para o combate dos mesmos.
Falando ainda em vantagens para o ambiente, o bom manejo da matéria orgânica do solo é ainda uma excelente alternativa para o equilíbrio do ambiente por propiciar a reciclagem de lixo orgânico urbano, estercos, resíduos industriais e restos culturais por meio de compostagem.
Manejo da Matéria Orgânica do Solo aliado ao Sistema de Plantio Direto
Segundo Muzilli (1985), plantio direto é uma prática em que a semeadura em solo é feita sem o revolvimento do mesmo, na qual a semente é colocada em sulcos ou covas, o controle de plantas daninhas é feito com herbicidas e a semeadura é feita sobre os restos culturais anteriores sem sua destruição e incorporação ao solo. Essa massa de material vegetal morto em decomposição sobre o solo influencia na vida dos macroorganismos e microorganismos que no solo vivem, incluindo as plantas e suas sementes (Almeida, 1985). È a partir da matéria orgânica do solo que a grande maioria dos seres viventes no solo retira os elementos essenciais para sua sobrevivência e atividade.
No Sistema de Plantio Convencional (SPC) e no Sistema de Plantio Direto (SPD) a quantidade de resíduos vegetais que permanece no solo é a mesma. A diferença é que no SPC esse material vegetal morto é incorporado ao solo, o que acontece com o revolvimento do mesmo aumentando sua aeração. O aumento da quantidade de oxigênio no solo causa uma rápida atividade microbiana degradando rapidamente a matéria orgânica. Segundo Almeida (1985), é por essa razão, que em iguais circunstancias, o teor de matéria orgânica no solo em terras sobre SPD, é maior do que terras sobre SPC.
Matéria orgânica e fertilidade do solo em Sistema de Plantio Direto
O acúmulo de restos vegetais na superfície do solo, o não revolvimento do mesmo e o uso de fertilizantes e corretivos resultam em um efeito residual dos elementos essenciais entre os quais, alguns são listados a seguir:
a) Segundo Alvarenga et al. (2001), a palha deixada sobre a superfície do solo ocasiona um acúmulo de quantidades consideráveis de nutrientes, os quais estarão disponíveis ás plantas em crescimento após o período de decomposição da palha.
b) O não revolvimento do solo reduz o contato do íon fosfato com os colóides do solo reduzindo as reações de adsorção (Freire; Vasconcellos; França, 2001).
c) Segundo Mulzilli (1985), o melhor aproveitamento de fósforo pelas plantas em SPD explica-se pela presença de maior teor de umidade nas camadas superficiais do solo, favorecendo a difusão do nutriente até a raiz.
O comportamento físico do solo sob Sistema de Plantio Direto
O manejo correto da matéria orgânica do solo pregado pelo Sistema de Plantio direto, como já listado anteriormente garante a estruturação, descompactação e aeração adequadas ao desenvolvimento de plantas e seus sistemas radiculares. Por esse motivo, em culturas implantadas sob SPD, a aração tem se tornado um processo dispensável.
Desvantagens do Sistema de Plantio Direto
Todas as principais vantagens do SPD foram listadas ao longo do presente artigo no que diz respeito à conservação do solo, ao acúmulo e a melhora da disponibilidade de nutrientes e melhoria do desenvolvimento vegetal. Mas o sistema possui também algumas desvantagens. Segundo Dijkstra (1984), Souza & Resende (1982) e Viégas e Peeten (1987) citados por Cruz et al. o plantio direto apresenta as seguintes desvantagens:
a) o sistema não é aplicável a todas as condições de solo e não é adaptável a todos os tipos deles.
b) dificulta a incorporação de adubos
c) ocasiona maior uso de herbicidas (o que aumenta os custos).
d) exigência de maior assistência técnica especializada
e) dificuldade na eliminação de focos de doenças e pragas (presentes nos restos culturais.
Podemos citar ainda, dentro das dificuldades encontradas para a implantação do sistema de plantio direto, o alto custo inicial com correção de acidez, adubações pesadas, maiores gastos iniciais no controle de daninhas e dificuldades com a adaptação das maquinas para o SPD.
Conclusão
Com base nas informações contidas no artigo e levando em conta os objetivos propostos, conclui-se que:
- A matéria orgânica do solo é de extrema importância para a existência da Prática do Sistema de plantio direto.
- A matéria orgânica do solo, bem como seu correto manejo é de extrema importância para manter as qualidades físicas, químicas e biológicas do solo mesmo em sistemas de plantio convencionais.
- O sistema de plantio direto apresenta diversas vantagens para a conservação do solo, bem como para aumento de produtividade e da qualidade dos alimentos.
- O sistema de plantio direto ainda apresenta algumas limitações como: dificuldade de se ter retorno financeiro nos primeiros ciclos, dificuldade de encontrar pessoas capacitadas para o trabalho e a maior incidência de pragas presentes em restos culturais ou de fitopatógenos que tem sua atividade e permanência beneficiadas pelos altos teores de umidade contidos no solo em SPD.
- Mesmo existindo limitações, o sistema de plantio direto é passível de ser implantado (salvo sob condições de solo que não o suportam). Ainda que exija um alto investimento inicial, pois se houver controle financeiro, os investimentos podem ser financiados e serão pagos com o futuro retorno. Pois a produtividade em muito irá melhorar.
Referências bibliográficas
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COUTINHO, H. L. C. et al. Ecologia e biodiversidade do solo no contexto da agroecologia. In: Informe agropecuário. Belo Horizonte, v. 24, n. 220, p 45-54. 2003.
CRUZ, J. C. et al. Plantio direto e sustentabilidade do sistema agrícola. In: Informe agropecuário. Belo Horizonte, v. 22, n. 208, p. 13-24, jan./fev. 2001.
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