Existem diversos exemplos de aumento da biodiversidade associado com a introdução de novas plantas e animais em ecossistemas onde não são nativos. por Ronald Bailey.
Este é um fato que suspeito ser desconhecido pela maioria das pessoas: aonde quer que seres humanos tenham ido nos últimos dois séculos, aumentamos a biodiversidade local e regional. Biodiversidade, neste caso, é definida como a riqueza de espécies. Por exemplo, mais de 4 mil espécies de plantas introduzidas na América do Norte durante os últimos 400 anos crescem selvagemente aqui; elas agora constituem quase 20% da biodiversidade de plantas vasculares do continente.
No entanto, “a visão popular é que a diversidade está diminuindo em escalas locais”, como os biólogos Dov Daz da Universidade Brown e Steven Gaines, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, observaram em um artigo publicado em 2003 pelo periódico Trends in Ecology and Evolution. E um dos supostos culpados pela suposta perda de diversidade é a competição das espécies invasoras — ou seja, plantas e animais introduzidos em ecossistemas onde não são nativos.
Oponentes das espécies invasoras temem que forasteiros agressivos acabem com as espécies nativas. Isso pode parecer razoável, pois existem algumas poucas espécies, como kudzu, salgueirinha roxa e jacinto de água, que se reproduzem a uma velocidade alarmante onde quer que apareçam. Mais isso não significa que outras espécies estão necessariamente em perigo. “Não existem evidências de que sequer uma única espécie residente de longo prazo tenha sido levada à extinção, ou mesmo extirpada dentro de um único estado norte-americano, por causa da competição de uma espécie de planta introduzida”, observou o biólogo Mark A. Davis, do Macalester College, no periódico BioScience, em 2003.
Contudo, essa ameaça de extinção espúria é uma das principais razões dadas para a prevenção da introdução de espécies exóticas em novas áreas.
Existem diversos outros exemplos de aumento da biodiversidade associado com a introdução de novas espécies. Plantas vasculares trazidas de todas as partes do mundo dobraram a riqueza de espécies de plantas na maioria das ilhas do Pacífico. A biodiversidade de algumas ilhas aumentou tanto que agora se aproxima da riqueza da área continental. Na Nova Zelândia, desde que a ocupação europeia iniciou há 160 anos, 2 mil espécies de plantas introduzidas se juntaram às 2 mil espécies nativas, e apenas três espécies de plantas nativas foram extintas. A abertura do Canal de Suez introduziu 250 novas espécies de peixes do Mar Vermelho no Mar Mediterrâneo. Apenas uma extinção ocorreu.
Pesquisadores encontram aumentos de riqueza de espécies também a nível local. Sax e Gaines citam estudos que encontraram que uma região de West Lancaster, na Grã-Bretanha, experimentou um dramático aumento de diversidade de espécies de plantas durante os últimos 200 anos, ganhando 700 espécies exóticas e perdendo apenas 40 nativas. O movimento de espécies entre ecossistemas aumentou levemente a diversidade de répteis e anfíbios na Califórnia e aumentou significativamente a diversidade de peixes de água doce em muitas drenagens em todos os Estados Unidos. A diversidade de mamíferos aumentou em muitas ilhas oceânicas, na Austrália e na América do Norte, graças às espécies introduzidas.
Exceção à regra
Algumas espécies introduzidas causam danos ao meio ambiente. Elas se tornam pestes (ou seja, se estabelecem onde não as queremos) ou causam doenças em pessoas ou criaturas com as quais nos importamos. Mas a grande maioria das espécies introduzidas se mistura de maneira mais ou menos discreta com as nativas. A principal objeção à propagação de espécies não nativas parece ser estética.
O biólogo Phillip Cassey, da Universidade de Birmingham, por exemplo, responde à evidência da crescente biodiversidade local e regional reclamando que muitos dos pássaros que um visitante do Reino Unido pode encontrar na Nova Zelândia são as mesmas espécies que ele encontra no seu país. “O mesmo ocorre com floras e faunas ao redor do mundo”, Cassey e três coautores lamentaram no periódico Austral Ecology em 2005. “É o equivalente biológico de voar de Seattle para Paris e ir ao Starbucks comprar café”.
Que seja. Mas isso não é um argumento científico. Como Sax e o biólogo James Brown, da Universidade do Novo México, responderam a Cassey e seus colegas a respeito do mesmo assunto de Ecologia Austral, se os efeitos de espécies introduzidas “são consideradas positivos ou negativos, bons ou maus, é mais um julgamento de valor subjetivo do que uma descoberta científica objetiva. Cientistas não são mais qualificados para fazerem tais decisões éticas do que pessoas leigas”. Phillip Cassey pode querer beber o seu café au lait no Les Deux Magots enquanto outros desfrutam de umVenti Café Misto nos arredores de um familiar Starbucks parisiense. A ciência não tem nada a dizer sobre qual é a melhor escolha.
No entanto, razões estéticas ainda são razões, e a ciência pode ser validamente implantada ao seu serviço. Algumas pessoas podem preferir paisagens restauradas à condição anterior à introdução das espécies de fora. Como Davis e o biólogo da Universidade Stony Brook, Lawrence Slobodkin, observaram em um artigo de 2004 para a Restoration Ecology, a arquitetura usa matemática, física e engenharia para alcançar objetivos estéticos e sociais. “Talvez ‘arquitetura ecológica’ possa ser uma caracterização mais apta do trabalho da restauração ecológica”, eles sugerem, “porque o termo reconhece o papel central desempenhado tanto pelos valores quanto pela ciência”.
A boa notícia da biologia, como Davis observa em seu artigo naBioScience, é que “a globalização da biota da Terra não nos levará a um mundo composto de mexilhões zebra, kudzu e estorninhos”. No futuro, diferentes regiões do mundo serão mais similares nas suas floras e faunas, ele conclui, mas “ao mesmo tempo, elas se tornarão mais diversas, em alguns casos muito mais diversas.”