Criação de Tilápia
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Criação de Tilápia



Em contraste com as facilidades do manejo do estoque proporcionadas pela criação em tanques-rede, a criação de tilápias em tanques escavados impõe ao produtor alguns desafios para um adequado e eficiente manejo da produção. O principal deles é a dificuldade de despesca das tilápias em viveiros com redes de arrasto convencionais. Tilápias são peixes espertos que saltam por sobre as redes ou deitam nos ninhos escavados no fundo dos tanques escapando por baixo das redes. Alguns peixes, no desespero da fuga, chegam até mesmo a se enfiar no lodo do fundo, onde invariavelmente acabam morrendo. Essa dificuldade nas despescas faz com que os produtores optem em não realizar intervenções importantes, como as classificações por tamanho e a eliminação de parte das fêmeas do lote. Assim, a engorda de tilápias em tanques escavados geralmente é realizada em fase única (estocagem de alevinos que são engordados até o peso de mercado sem nenhuma intervenção durante a engorda) ou, na melhor das hipóteses, em duas fases de produção (etapa de berçário, onde os alevinos são recriados em local protegido até atingirem 10 a 100g, e uma segunda etapa, onde os juvenis de 10 a 100g são engordados até o peso comercial). Sem estruturar a produção em fases, as previsões de número e biomassa ficam falhas, o aproveitamento dos alevinos é diminuído, o uso da área fica ineficiente, os peixes chegam ao final da engorda com tamanho muito variado e os custos de produção ficam mais elevados. Adicionalmente, os tanques de engorda acabam superpovoados com a reprodução indesejada das tilápias, principalmente quando se pretende produzir tilápias de maior tamanho, que demandam um ciclo mais longo de engorda. Outro problema comum à produção de peixes em viveiros é a ocorrência de “off-flavor” ou mau sabor nos peixes. Estes podem apresentar gosto de terra, particularmente quando há uma proliferação muito intensa de fitoplâncton. Apesar das dificuldades no manejo e controle do estoque, as tilápias podem ser criadas em tanques de terra de forma eficiente e a um baixo custo. Para isso é necessário adotar estratégias de produção eficazes e contar com equipamentos e estruturas que facilitem a despesca, o manuseio e a classificação dos peixes por tamanho. Pelo fato de serem eficientes no aproveitamento do alimento natural disponível (o plâncton), as tilápias podem ser produzidas em tanques de terra a um menor custo de produção, comparado à criação em tanques-rede ou em outros sistemas mais intensivos. Além disso, contribuem com a fixação de gás carbônico (incorporado no plâncton) em proteína de pescado e sua carne acumula mais ômega-3, fatores que podem ser ressaltados como um marketing positivo dos produtos de tilápia provenientes da criação em viveiros.

Fatores determinantes ao sucesso da produção de tilápias em tanques escavados
Diversos fatores impactam o sucesso da produção de tilápias em tanques de terra
• Qualidade e sobrevivência dos alevinos e juvenis.
• Estratégias para minimizar o impacto da reprodução indesejada.
• Estratégias de produção em fases.
• Eficiente manuseio, classificação e transferência.
• Monitoramento da qualidade da água, em particular do oxigênio dissolvido.
• Adequado manejo nutricional e alimentar.
• Despesca eficiente.
• Reaproveitamento da água, mínimo volume de efluentes e baixa concentração de sólidos e nutrientes nos afluentes

Qualidade e sobrevivência dos alevinos e juvenis
A predação por aves e morcegos nas fases iniciais de criação também contribuem com as baixas no estoque. O investimento na colocação de tela anti pássaros sobre os tanques estocados com alevinos e juvenis é rapidamente recuperado com o maior aproveitamento dos peixes. Grande mortalidade de juvenis muitas vezes ocorre na própria piscicultura, após os manejos nas despescas e transferências para os tanques de engorda. Devido à facilidade das tilápias fugirem do arrasto, as despescas de juvenis são marcadas por um grande número de passagens de rede no mesmo tanque. Os peixes ficam exaustos e se ferem nas inúmeras tentativas de fugas durante as despescas. Se espremem entre a rede e o barro, perdem escama e muco, entram em estresse fisiológico, perdem sais em excesso do sangue para a água e acabam com a resistência imunológica comprometida. O arrasto excessivo das redes promove intensa suspensão de argila e material orgânico na água. Isso provoca inflamação nas brânquias, prejudica a respiração e ainda pode favorecer a infecção dos peixes por patógenos. Adicionalmente, as passagens de rede misturam a água do fundo, de baixa qualidade, com a de superfície. A água do fundo dos tanques geralmente contém baixo oxigênio, elevado gás carbônico e uma diversidade de compostos potencialmente tóxicos aos peixes (amônia, gás sulfídrico, metano, entre outros). Peixes expostos a esta água por muito tempo podem apresentar alta mortalidade após o manuseio e transferências. O aproveitamento de alevinos e juvenis pode ser aumentado com a identificação de bons fornecedores, preparo adequado dos tanques de alevinagem, adoção de uma fase de berçário com maior proteção contra predadores e uso de estratégias eficientes na despesca e no manejo dos juvenis antes das transferências para os tanques de engorda.

Estratégias para minimizar o impacto da reprodução indesejada
O impacto da presença de fêmeas na criação de tilápias em tanques-rede é parcialmente minimizado pelas altas densidades na engorda e pela falta de um substrato adequado, que inibem e dificultam a reprodução. Este é um dos aspectos favoráveis da criação de tilápias em tanques-rede. No entanto, em tanques escavados as tilápias acabam encontrando um ambiente mais favorável à reprodução durante o cultivo. Para produzir uma tilápia de maior porte (600g a 1.000g, por exemplo) a engorda pode se estender por 6 a 12 meses, dependendo das condições do clima, do peso inicial dos alevinos estocados, do manejo nutricional e alimentar empregado, da densidade de estocagem, entre outros fatores. Como as tilápias atingem maturidade sexual por volta do 5º ao 6º mês de vida, há tempo suficiente para que as fêmeas presentes no estoque se reproduzam repetidamente. Os novos alevinos e juvenis nascidos nos tanques de engorda competem com os peixes originalmente estocados pelo alimento e oxigênio disponível. Isso pode prejudicar o crescimento e a conversão alimentar dos peixes no cultivo. A presença de um pequeno percentual de fêmeas nos lotes, sem um adequado manejo, em particular sob ciclos estendidos de engorda, é suficiente para superpovoar os tanques. Esse problema é ainda mais acentuado quando a engorda tem início com juvenis que foram estocados durante o inverno. Estes peixes já estão se aproximando do início da reprodução e ainda precisam de mais 5 a 8 meses de crescimento para atingir peso de mercado. Isso é tempo suficiente para realizarem diversas desovas nos tanques de engorda. Para minimizar este impacto, o produtor deve identificar fornecedores de alevinos que conseguem ofertar de forma consistente lotes com o menor percentual possível de fêmeas. Ainda assim é preciso adotar estratégias complementares para minimizar o impacto da reprodução das poucas fêmeas presentes nos estoques. Uma destas estratégias é estruturar a produção em fases, possibilitando, antes do início da fase final de engorda, o descarte do maior número possível de fêmeas do plantel, através da técnica de gradagem. A gradagem serve para eliminar os menores peixes do lote, dentre os quais se presume haverá um maior percentual de fêmeas. A eliminação de fêmeas também pode ser feita manualmente, embora este processo seja demasiadamente trabalhoso em uma grande escala de produção. Além disso, o produtor pode também estocar outros peixes que comam as pós-larvas e pequenos alevinos de tilápia. Neste trabalho é mais eficiente o uso de peixes controladores de pequeno porte. Alevinos de peixes carnívoros como o black bass, o trairão, a traíra, o dourado, o pintado, entre outros, com tamanho de 8 a 10 cm podem ser usados. Estes peixes ainda trazem a vantagem de não competirem com as tilápias pela ração fornecida. Cerca de 100 a 200 peixes controladores de pequeno porte devem ser estocados para cada 1.000m2 de tanque. Estes juvenis podem ser reaproveitados após a despesca e estocados em outros tótimos controladores de tilápia. No entanto, podem se reproduzir e competir com a ração fornecida às tilápias quando atingem porte adulto. Assim, estes peixes devem ser estocados nos tanques apenas na fase final ou nos últimos meses da engorda.Lambaris também são ótimos controladores de tilápia. No entanto, podem se reproduzir e competir com a ração fornecida às tilápias quando atingem porte adulto. Assim, estes peixes devem ser estocados nos tanques apenas na fase final ou nos últimos meses da engorda.

Adequado manejo nutricional e alimentar
Conversões alimentares entre 1,0 e 1,3 são comuns na criação de tilápias em tanques de terra com o uso de rações extrusadas de boa qualidade. Na criação de tilápias em tanques-rede, onde a contribuição do alimento natural é praticamente zero, as conversões alimentares variam entre 1,5
e 1,8, mas muitas vezes podem ficar acima de 2,0:1 quando a ração e/ou o manejo alimentar não são adequados. Em criações intensivas em tanques de terra, o plâncton e outros alimentos naturais podem contribuir com cerca de 30 a 40% do ganho de peso das tilápias, ajudando a reduzir o custo de produção. Além disso, o fitoplâncton oxigena a água dos tanques, remove a amônia e impede o desenvolvimento de plantas aquáticas submersas. Assim, a formação do plâncton deve ser promovida com a correção da alcalinidade da água através da calagem (quando necessário) e da adubação dos tanques no início de cada fase de cultivo. Alguns produtores não conseguem formar e manter uma adequada quantidade de plâncton. Este insucesso geralmente se deve a inadequada correção da alcalinidade da água e ao excesso de renovação de água nos tanques. Outros fatores como a presença de argila em suspensão e a estocagem inicial de uma biomassa pequena de peixes também podem dificultar a formação do plâncton. A renovação de água na recria e engorda de tilápias em tanques de terra somente é necessária após ser atingida uma biomassa de 600g/m2 (6.000 kg/ ha), ou melhor, quando a taxa de alimentação ultrapassa 80kg de ração/ha/dia. O disco de Secchi mede a transparência da água e pode ser útil para determinar se a água deve ou não ser renovada nos viveiros. Em tanques de produção de tilápia a transparência deve ser mantida entre 20 e 30cm. Quando o plâncton se torna excessivo, ou seja, a transparência cai abaixo de 20cm, o produtor deve realizar a renovação de parte da água dos viveiros. Pelo fato das tilápias em tanques de terra terem alimento natural disponível, muitos produtores relaxam no manejo nutricional e alimentar. Na realidade, o uso de rações de alta qualidade (as mesmas usadas em situações de cultivo intensivo) traz grandes benefícios à qualidade da água, ao desempenho e à saúde dos peixes, acelerando as etapas de cultivo e possibilitando um aumento na produtividade por área com melhor eficiência alimentar e menor custo de ração por quilo de peixe produzido. O desafio no manejo alimentar de tilápias em tanques de terra é dosar a oferta de ração de modo que os peixes ainda mantenham um adequado consumo de alimento natural. A coloração das fezes dos peixe pode ajudar o produtor a dosar a alimentação. Fezes de cor verde muito intenso pode indicar que a oferta de ração está insuficiente. Fezes de coloração bem marrom, sem tons esverdeados, indicam que os peixes estão recebendo excessiva quantidade de ração. Fezes com coloração marrom com tom esverdeado indicam que os peixes estão comendo tanto a ração como o alimento natural, condição próxima do desejado.

Reaproveitamento da água, mínimo volume de efluentes e baixa concentração de sólidos e nutrientes nos efluentes

Além do sucesso produtivo, a tilapicultura em tanques escavados deve seguir na direção da sustentabilidade ambiental. Para isso é necessário adotar boas práticas de conservação de água e de mínimo descarte de efluentes. Assim, os produtores devem manter o nível operacional de água nos tanques cerca de 10 a 15 cm abaixo do nível máximo de água, possibilitando acomodar a água da chuva que incide diretamente sobre os viveiros. Isso possibilita conservar a água, reduzir o volume de descarga de água e de sólidos em suspensão para os cursos d’água receptores e minimizar os gastos com energia em pisciculturas onde o bombeamento de água é necessário para o enchimento dos tanques. Na criação de tilápias é necessário realizar a drenagem completa dos tanques após cada fase de produção. Só assim é possível remover todos os peixes do tanque. Essa água drenada deve, sempre que possível, ser reaproveitada no enchimento do mesmo tanque ou para completar a água em outros tanques de criação. Para tanto a água de drenagem tem que ser armazenada em um tanque receptor ou mesmo em tanques vizinhos, sendo usada posteriormente para o enchimento do tanque que foi drenado. Além da economia no uso de água, corretivos e fertilizantes, o reuso da água possibilita iniciar um novo ciclo com boa abundância de alimento natural. Outra boa prática que deve ser adotada pelos produtores é a de manter o dreno fechado durante a despesca. Isso impede a
descarga de água com excessiva quantidade de sólidos em suspensão. Após a finalização da despesca da maioria dos peixes, deve se aguardar entre dois e três dias para que os sólidos em suspensão decantem. Somente após esse tempo é que deve ser feita a drenagem total do viveiro e a remoção do restante dos peixes. A adoção destas práticas ajuda a reduzir o uso de água, o volume de efluentes e o aporte de sólidos e de nutrientes nos corpos d’água receptores da água da piscicultura.
Fonte:www.ferrazmaquinas.com.br



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